O Movimento Negro Evangélico protocolou, nesta quinta-feira (12), uma notícia-crime no Ministério Público de São Paulo contra a Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA). A ação acusa a igreja de racismo após a publicação de um comunicado proibindo o uso de penteado afro e outras práticas relacionadas à aparência de seus fiéis.
No comunicado, enviado em 3 de dezembro, a IPDA estabeleceu regras de vestimenta e comportamento, afirmando que “é nosso compromisso com a santidade refletir não apenas em palavras e atitudes, mas também em nossa aparência”. Entre as proibições estavam roupas justas, maquiagem, unhas pintadas e, para os homens, o uso de barba e penteados afro. O texto também alertava que quem não seguisse as orientações estaria impedido de participar de atividades religiosas.
Após a repercussão negativa, a igreja informou que a proibição ao penteado afro “não está mais valendo” e declarou repudiar qualquer ato de discriminação. Segundo nota oficial, a IPDA afirmou que apura as circunstâncias da divulgação do comunicado, alegando que ele “não representa os valores cristãos defendidos pela igreja”.
O Movimento Negro Evangélico baseou a notícia-crime no Artigo 20 da Lei do Racismo (7.716/1989), que criminaliza a discriminação por raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A organização argumentou que as regras da igreja restringem a afirmação da identidade negra e associam o penteado afro a valores negativos.
“Como pessoas negras evangélicas, não podemos mais tolerar que a Bíblia seja utilizada para reproduzir uma violência tão grave como o racismo”, afirmou Jackson Augusto, coordenador nacional do movimento. Ele também destacou que, historicamente, interpretações bíblicas foram usadas para justificar a escravidão e a colonização africana.
O coordenador de Incidência Política do Movimento, José Vitor, explicou que a denúncia busca promover justiça e estabelecer limites para práticas discriminatórias em instituições religiosas.
“Essa notícia-crime é importante porque não se trata somente da Igreja Deus é Amor. Casos como esse são recorrentes em diversas igrejas, e precisamos reivindicar quais são os limites para situações que reforçam o preconceito em nossas comunidades”, afirmou.
O Ministério Público confirmou que a denúncia será encaminhada ao Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância (Gecradi) para investigação. As informações são do jornal O Globo.
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